Jogadores a benzerem-se ao entrar em campo, ou a tocarem o chão com a mão direita, ou ainda treinadores com amuletos espremidos na própria mão. São as evidências do domínio do supersticioso e do sobrenatural nas mentes "civilizadas" dos cidadãos que estão quase a entrar no chamado terceiro milénio...
Fui tomar um café. Fiquei ao balcão. Enquanto esperava, tive tempo para olhar para cima e, numa prateleira, vi cinco imagens da Virgem de Fátima, com um copo cheio do que poderia ser água ou aguardente, encimado por um pão. Pensei: "O dono disto acredita que o seu negócio vai ser ajudado por esta superstição". Se estivesse na Ásia ou na África decerto veria o mesmo. Mas superstição não é fé!
Lembrei-me depois que os amuletos também estão em alta no desporto: bem, nalgum desporto pelo menos. Há uns dois anos um treinador espanhol do Farense prometeu ir a pé a Fátima se o clube não descesse de divisão um dos últimos jogos. Aconteceu como pediu, e foi, mas creio que em menos de um ano despediram-no por insucesso. Um outro treinador, este português, também na área do desporto-rei, declarou a semana passada a uma das cadeias de televisão lusitanas que a sua mão fechada, vista assim pelos telespectadores durante os jogos, encerrava a magia do êxito representada por uma pequena imagem de Virgem de Fátima, nada mais do que um mito que extrapolou fronteiras a ponto de fazer com que o superior hierárquico máximo do Vaticano viesse beatificar os pastorinhos videntes, isto em sede de memória recente excessivamente difundida pelos media. Terá dito, o treinador campeão com outras e prévias atitudes louváveis de desportivismo, também que cada um tem a sua fé. Mas fé não é superstição...
Fui tomar um café. Fiquei ao balcão. Enquanto esperava, tive tempo para olhar para cima e, numa prateleira, vi cinco imagens da Virgem de Fátima, com um copo cheio do que poderia ser água ou aguardente, encimado por um pão. Pensei: "O dono disto acredita que o seu negócio vai ser ajudado por esta superstição". Se estivesse na Ásia ou na África decerto veria o mesmo. Mas superstição não é fé!
Lembrei-me depois que os amuletos também estão em alta no desporto: bem, nalgum desporto pelo menos. Há uns dois anos um treinador espanhol do Farense prometeu ir a pé a Fátima se o clube não descesse de divisão um dos últimos jogos. Aconteceu como pediu, e foi, mas creio que em menos de um ano despediram-no por insucesso. Um outro treinador, este português, também na área do desporto-rei, declarou a semana passada a uma das cadeias de televisão lusitanas que a sua mão fechada, vista assim pelos telespectadores durante os jogos, encerrava a magia do êxito representada por uma pequena imagem de Virgem de Fátima, nada mais do que um mito que extrapolou fronteiras a ponto de fazer com que o superior hierárquico máximo do Vaticano viesse beatificar os pastorinhos videntes, isto em sede de memória recente excessivamente difundida pelos media. Terá dito, o treinador campeão com outras e prévias atitudes louváveis de desportivismo, também que cada um tem a sua fé. Mas fé não é superstição...
A força
A crença em talismãs reside na infância espiritual em que se encontra a humanidade. Nesta fase evolutiva do espírito impera o pensamento mágico, que se contrapõe ao uso da razão. O primeiro estende-se no horizonte primitivo das névoas da consciência; o segundo é uma conquista recente, utilizado sobretudo para o que é mais imediato, no campo dos quantitativos, e funciona numa relação mais ou menos esclarecida de causa e efeito. De uma forma ou de outra, quando o ser depara com situações-limite, recua para o espaço difuso onde a consciência amealha esperança a qualquer preço, e se reconforta como pode. Depois, surgem os amuletos, as superstições, as promessas, enfim, o sobrenatural, que Kardec garante não existir senão na imaginação humana.
Lembro-me que também a minha professora de filosofia, no liceu, na década de 70, no capítulo da lógica, ensinava o princípio da razão suficiente: todo e qualquer fenómeno ocorre através do funcionamento de um mecanismo desvendável - se não hoje, amanhã -, e compreensível em termos racionais. Allan Kardec na obra de codificação do espiritismo concluiu o mesmo em meados do século XIX, é do conhecimento comum: o sobrenatural não existe! Hoje, estamos no término do século XX... quando deixaremos as fraldas e passaremos a enfrentar uma espiritualidade autêntica e verdadeiramente fraterna, sem molduras de sobrenatural?
Lembro-me que também a minha professora de filosofia, no liceu, na década de 70, no capítulo da lógica, ensinava o princípio da razão suficiente: todo e qualquer fenómeno ocorre através do funcionamento de um mecanismo desvendável - se não hoje, amanhã -, e compreensível em termos racionais. Allan Kardec na obra de codificação do espiritismo concluiu o mesmo em meados do século XIX, é do conhecimento comum: o sobrenatural não existe! Hoje, estamos no término do século XX... quando deixaremos as fraldas e passaremos a enfrentar uma espiritualidade autêntica e verdadeiramente fraterna, sem molduras de sobrenatural?
Civilização
A antropologia explica, como verdade adquirida: a humanidade historicamente evoluiu da magia para a religião. O espiritismo veio para continuar o caminho evolutivo que a religião não tem pernas para percorrer, por muito que a empurrem, até mesmo os próprios espíritas! Também não está em causa o direito que cada um tem de crer no que bem quiser, desde que não cause dano ao semelhante. Mas é curioso notar o verniz de civilização com que o cidadão comum se unta, em qualquer continente, da Europa endinheirada à região mais misérrima do Terceiro Mundo.
Em "O Livro dos Espíritos" Kardec pergunta sobre os talismãs e a conclusão surge evidente: o que vale é o pensamento, não o objecto.
A história mostra que, no passado, religiões institucionalizadas perseguiram a maltrataram pessoas e famílias, deram corpo a autênticos genocídios, considerando bárbaras e primitivas culturas que apenas não dispunham da capacidade tecnológica de guerra que o mundo ocidental detinha.
As suas cruzes, os seus amuletos, o seu dogmatismo, a sua incapacidade de entender ideias diferentes, a sede poder e de dinheiro.
Vai-se distanciando. O espiritismo é uma doutrina que, com Allan Kardec, aponta para o futuro.
Superstição não é fé. Uma é crença mágica; a outra é a convicção que surge da tomada de consciência de que existem leis sábias que regulam a vida e a evolução de todos, que podem ser estudadas, para poderem ser melhor compreendidas.
O amanhã estará sempre mais próximo ou mais longe, é como cada um quiser e cada qual escolher.
Texto: Jorge In "Revista Internacional de Espiritismo" (Brasil), edição de Junho de 2000
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