Emmanuel • psicografia de Francisco Cândido Xavier
Nos dias difíceis, reflete nos outros dias difíceis que já se foram.
Depois de atravessados transes e lutas que supunhas insuperáveis, não soubeste explicar a ti mesmo de que modo os vencestes e de que fontes hauriste as forças necessárias para te sustentares e refazeres, durante e depois das refregas sofridas.
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Viste a doença no ente amado assumir gravidade estranha e sem que lograsses penetrar o fenômeno em todos os detalhes, surgiu a medicação ou a providência ideais que o arrebataram da morte.
Experimentaste a visitação do desânimo, à frente dos obstáculos que te gravaram a vida, mas sem que te desses conta do amparo recebido, largaste o desalento das trevas e regressaste à luz da esperança.
Crises do sentimento que se te afiguravam invencíveis, pelo teor de angústia com que te alcançaram o imo da alma, desapareceram como por encanto sem que conseguisses definir a intervenção libertadora que te restituiu à tranquilidade.
Sofreste a ausência de seres imensamente queridos, chamados pela desencarnação, por tarefas inadiáveis, a outras faixas de experiência. No entanto, sem que despendesses qualquer esforço, outras almas abençoadas apareceram, passando a nutrir-te o coração com edificante apoio afetivo.
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Tudo isso, entretanto, sucedeu porque persististe na fé, aguardando e cofiando, trabalhando e servindo, sem te entregares à deserção ou à derrota, ofertando ensejo à bondade de Deus para agir em teu benefício.
Nas dificuldades em andamento, considera as dificuldades que já venceste e compreenderás que Deus, cujo infinito amor te sustentou ontem, sustentará também hoje.
Para isso, porém, é imperioso permanecermos fiéis ao cumprimento de nossas obrigações, de vez que a paciência, no centro delas, é o dom de esperar por Deus, cooperando com Deus sem atrapalhar.
DAR ENSEJO A DEUS • J. Herculano Pires (Irmão Saulo)
Se o náufrago não se desesperar, suportando a violência das ondas para dar ensejo ao barco salvador, poderá ser salvo. Mas, se logo se entregar ao desespero e cair do bote ou perder o salva-vidas, é claro que será tragado pelas águas. Nas dificuldades da vida quase nos desesperamos e não damos ensejo à Providência Divina para que nos socorra. Falta-nos o apoio essencial, a força íntima da fé que nos dá serenidade para termos a confiança necessária nos poderes superiores.
Em outras palavras: nos dias difíceis precisamos dar ensejo a Deus. Claro que é Ele o supremo poder, a inteligência que nos criou e a força que nos sustém. Mas Ele é também liberdade e não só nos deu a liberdade de ser e de agir, como respeita a liberdade concedida para que possamos desenvolvê-la, adquirindo mais força e poder nas bases da responsabilidade. O amor de Deus vela por nós em todas as circunstâncias, mas não é o amor tirano que cria complexos e traumas, e sim o amor libertação que nos deixa o direito de aprender – o que só conseguimos na experiência.
O mundo é, para o homem, um campo de experiências livres. O homem, única brecha de liberdade na espessura do mundo, como assinalou Sartre, pode pôr e dispor no campo das suas decisões. Porque ele – o homem – é o momento em que a Criação toma consciência de si mesma, começa a refletir em si a inteligência e o poder criador de Deus. Por isso é preciso que a sua liberdade seja respeitada, e podemos dizer que Deus se respeita a si próprio ao respeitar a liberdade humana. O essencial na experiência do homem é a aquisição da fé, mas a fé só pode ser adquirida a partir da confiança em si mesmo. Essa a razão por que a intervenção de Deus depende de nós mesmos.
Assim como Kant foi o crítico da razão, Kardec foi o crítico da fé. Não fez uma obra filosófica sistemática sobre a fé, mas examinou-a em termos compreensíveis, mostrando que só podemos ter fé naquilo que conhecemos. Existe, ensinou ele, a fé humana e a fé divina. Para termos fé em Deus precisamos saber o que é Ele, conhecê-lo e nele confiar. Mas para chegar até esse ponto precisamos desenvolver a fé humana em nós mesmos, descobrir a nossa natureza divina, os poderes ocultos que trazemos em nossa aparente fragilidade. E basta lembrar, então, que o simples fato de existirmos é uma prova do poder de Deus, para nele confiar.
Os familiares do poeta Cyro Costa foram surpreendidos pelo aparecimento de um soneto de sua autoria no encerramento do Pinga Fogo do Canal 4. Alguns deles estavam assistindo ao programa e ficaram surpresos ao ver que Chico Xavier, ao encerrá-lo, psicografou o soneto “Segundo milênio”, um alexandrino de inegável improviso, porque resumindo o tema central das perguntas feitas ao médium. O estilo inconfundível de Cyro Costa foi a ficha de identidade que emocionou os seus familiares.
Dias depois, duas filhas do poeta fizeram uma visita ao Grupo Espírita Emmanuel, em São Bernardo do Campo, e levaram de presente alguns volumes de Terra prometida, o livro de poemas de Cyro Costa que a Livraria José Olímpio Editora lançou em 1938. Nesse livro figura o famoso soneto “Pai João”, que é o mais conhecido, e o soneto “Mãe Preta”, de que foram tirados os versos gravados no Monumento à Mãe Preta do Largo do Paissandu, em São Paulo. Como se vê, o Pinga Fogo com Chico Xavier continua a produzir resultados imprevistos.
Artigo publicado originalmente na coluna dominical "Chico Xavier pede licença"
do jornal Diário de S. Paulo, na década de 1970.
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